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sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Convenções

A classe média é uma terra estranha.

    A Mirtes não se aguentou e contou para a Lurdes:
    - Viram teu marido entrando num motel.
    A Lurdes abriu a boca e arregalou os olhos. Ficou assim, uma estátua do espanto, durante um minuto, um minuto e meio. Depois pediu detalhes. Quando? Onde? Com quem?
    - Ontem. No Discretissimu's.
    - Com quem? Com quem?
    - Isso eu não sei.
    - Mas como? Era alta? Magra? Loira? Puxava de uma perna?
    - Não sei, Lu.
    - O Carlos Alberto me paga. Ah, me paga.
    Quando o Carlos Alberto chegou em casa, a Lurdes anunciou que iria deixá-lo. E contou por quê.
    - Mas que história é essa, Lurdes? Você sabe quem era mulher que estava comigo no motel. Era você.
    - Pois é. Maldita hora em que eu aceitei ir. Discretissimu's! Toda a cidade ficou sabendo. Ainda bem que não me identificaram.
    - Pois então?
    - Pois então que eu tenho que deixar você. Não vê? É o que todas as minhas amigas esperam que eu faça. Não sou mulher de ser enganada pelo marido e não reagir.
    - Mas você não foi enganada. Quem estava comigo era você!
    - Mas elas não sabem disso!
    - Eu não acredito Lurdes. Você vai desmanchar nosso casamento por isso? Por uma convenção?
    - Vou.
    Mais tarde, quando a Lurdes estava saindo de casa, com as malas, o Carlos Alberto a interceptou. Estava sombrio.
    - Acabo de receber um telefonema - disse. - Era o Dico.
    - O que ele queria?
    - Fez mil rodeios, mas acabou me contando. Disse que, como meu amigo, tinha que contar.
    - O quê?
    - Você foi vista saindo do Motel Discretissimu's ontem, com um homem.
    - O homem era você.
    - Eu sei, mas eu não fui identificado.
    - Você não disse que era você?
    - O quê? Para que os meus melhores amigos pensem que eu vou a motel com a minha própria mulher?
    - E então?
    - Desculpe, Lurdes, mas...
    - O quê?
    - Vou ter que te dar um tiro.

                                             -Luís Fernando Veríssimo.

6 comentários:

Márcio Vandré disse...

O Luis Fernando Veríssimo é um dos meus escritores favoritos!
:)
Vi que suas postagens são ocasionais! Espero que se torne mais frequente!
Bom saber que é uma blogueira do Nosso Ceará.
Um beijo e obrigado pela visita!

Samia Monteiro disse...

é que estou no terceiro ano e fica difícil postar com frequencia!
Mas obrigada, ele também é um dos meus preferidos!

Jeferson Cardoso disse...

Como vai, Samia?
Veríssimo, como de costume, sintetizou uma lista de paranóias de nosso tempo. Desde o compromisso com a imagem até a diferença entre a reação feminina em contraponto à masculina, truculenta e brutal.
Ótimo ler Veríssimo aqui. Eu já conhecia esta crônica, mas foi muito bom reler.
Abraço do Jefhcardoso, Samia!

Santiago disse...

Mas olha, não conhecia esse texto do Fernando V.
Muito bom. (: uaehuiaeh
um beijo, e obrigada pelo comentario no meu blog! o/

Naiana Iris' disse...

Adorei esse texto, muito bom!
Desejo a você muita sorte e sucesso, que você passe no vestibular para o curso que optou... Enfim, muito sucesso!
Obrigada pela passadinha lá no ''vida rabiscada''.

Beiiijão!

Brunno Leal disse...

Adoro esse texto!
Bom gosto!

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